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Depois do primeiro “Serão do Círculo”, sob o tema “Viver Arouca”, o Círculo Cultura e Democracia realizou o seu segundo Serão, uma tertúlia aberta que decorreu no Assembleia - Wine Bar & Restaurant, em Arouca, no passado dia 24 de Fevereiro. Desta vez, o Círculo convidou e contou com a co-organização de André Gomes, Luís da Silva Alexandre e Samuel Gonçalves, jovens arouquenses talentosos, e o título escolhido foi “Arouca - Radiografia Criativa”, reunindo um conjunto de intervenientes locais que desenvolvem atividades ligadas à criatividade em diferentes campos, desde o artístico e cultural, até ao empresarial.
 
O objetivo era fazer uma radiografia à criatividade no concelho de Arouca, procurando auscultar por um lado os seus agentes e por outro lado o seu território. Quanto aos agentes, o objetivo era a apresentação de casos concretos, e porventura inspiradores, de pessoas que têm estimulado a atividade criativa no concelho. Quanto ao território, pretendia-se elencar algumas das suas caraterísticas intrínsecas que podem servir de motor à produção criativa. Mas pretendia-se também perceber que pontos precisam de ser melhorados e que novas ligações têm de ser estabelecidas.

Os convidados desta edição foram:
  • Ana Helena Pinto, nutricionista que está a desenvolver juntamente com o Município de Arouca o programa Geofood, com o objetivo de desenvolver, promover e reinventar os produtos gastronómicos locais;
  • Carlos Brandão, presidente da Associação Empresarial de Cambra e Arouca (AECA) e fundador da Chatron, empresa internacionalmente reconhecida no desenvolvimento de novos produtos de elevada eficiência energética nas áreas de climatização, ventilação e iluminação;
  • Ivo Brandão, diretor musical do Orfeão de Arouca e participante frequente em coletivos como o Coro Casa da Música e a Orquestra do Norte, enquanto músico convidado, reconhecido pelo desenvolvimento de trabalhos, estudos e ações formativas nesta área;
  • João Martins, presidente do Movimento Fotográfico de Arouca, uma das associações criativas mais ativas do concelho, com o fim de promover a arte fotográfica em todos os seus aspectos e modalidades, designadamente, como veículo de expressão e intervenção social;
  • Tiago Martins, diretor executivo da Brain One, professor convidado do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave e investigador do Centro Algoritmi da Universidade do Minho, tendo sido mentor de diversos projetos criativos na área da música, das TI e do desporto.
Radiog convidA conversa começou com intervenções constantemente interrompidas (e ainda bem que assim foi) na procura inconclusiva de uma definição para a palavra “criatividade” – tarefa impossível. A criatividade pode estar ligada à inovação, como pode estar ligada à tradição, aos recursos locais ou à escala global. Na verdade, a única conclusão que conseguimos retirar neste esforço por dissecar semanticamente a criatividade é que esta não configura uma definição hermética e clara, mas sim um léxico hipertextual, de múltiplas referências que se relacionam entre si: inovação, tradição, local, global, criação, recriação, invenção e descoberta. 

Nesta discussão imersiva, apresentou-se um ponto essencial: a criatividade não está apenas no produto final ou na obra mas também no processo, está também na forma como organizamos os recursos à nossa disposição ou na capacidade de os procurar.

Surgiram dois aspetos que geraram consenso entre os intervenientes. Um foi o caráter coletivo do trabalho criativo, ou seja, as junção de sinergias e o espírito colaborativo são fatores proeminentes. Outro foi o reconhecimento que, ainda que a criatividade possa depender até certo grau de capacidades ou talentos inatos, o trabalho, a persistência e, por vezes, a pressão e a exigência são motores essenciais do processo criativo. 

Clarificou-se também neste Serão que o espírito livre intrinsecamente ligado à criatividade não significa que esta não implique aprofundamento ou rigor. Pelo contrário, para se ser criativo é necessário dominar o idioma, dominar as técnicas, para depois as podermos subverter. 

Tentou fazer-se uma relação do território de Arouca com as atividades criativas que nele se desenvolvem. A dúvida que se colocou foi se pretendíamos falar de criatividade de Arouca ou em Arouca. Em alguns casos podemos falar da criatividade de um território, quando a atividade desenvolvida está intrinsecamente ligada às caraterísticas físicas desse território (por exemplo, o projeto Geofood nasceu com uma ligação clara ao território do Arouca Geopark). Por outro lado, num mundo cada vez mais globalizado, podemos referir que a atividade criativa num território poderá não ter com ele qualquer ligação efetiva. Veja-se, por exemplo, casos ligados à economia digital, em que o local de produção de conteúdo é indiferente – podemos produzir para qualquer parte do mundo e a partir de qualquer parte do mundo.

Por último, tocou-se ainda nos aspetos ligados às indústrias criativas (arquitetura, artes visuais, música, cinema, design, multimédia, etc...), com um peso crescente na economia nacional, representando mais de 3% do PIB e mais de 2.5% do emprego. Focou-se a importância da aposta neste tipo de sector em territórios como os de Arouca, preocupados em preservar as suas qualidades espaciais e ambientais, reforçando que as indústrias criativas produzem riqueza ocupando menos espaço e poluindo menos que a generalidade das indústrias pesadas. 

O Serão acabou com uma questão no ar, lembrando que a criatividade também está no frescor das respostas aos desafios do espírito: “O que sonhavámos quando éramos crianças? Quais são os nossos sonhos?”.
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