Refletir sobre a floresta e os incêndios é atribuir-se uma das tarefas mais complexas com que poderíamos confrontarmo-nos na nossa relação com a natureza e o ambiente. Ela decorre do elevado número de elementos componentes do sistema Floresta e da multiplicidade de interdependências que existem entre eles.
A reflexão e ação que quisermos assumir terão que ter em conta, entre outros, a geologia, a configuração dos terrenos, as tipologias de florestação, a sistemas hidrologia, os sistemas de propriedade, as formas de gestão de cada um deles, a existência de bens privados e de bens públicos que a floresta gera, as interações com o ambiente, a floresta enquanto fonte de rendimento, a indústria que necessita da floresta como origem de matéria prima, as contas externas e os produtos da floresta, etc, etc. Ignorar a complexidade ou qualquer dos seus elementos é ser ineficiente. Por causa da complexidade, adiar a resolução dos problemas é colocar o lixo debaixo do tapete.
A complexidade pode levar-nos a pensar que devem ser os técnicos a encarregar-se da resolução dos problemas. Sendo verdade que o envolvimento dos técnicos deva ser considerado condição necessária a essa resolução, convém não esquecer que antes de ser um problema técnico ela é, antes de tudo, um problema social, um problema de sociedade. A técnica de pouco servirá, se antes de intervir e, concomitantemente, com a sua intervenção, não forem equacionados os problemas de sociedade que a floresta coloca. Por isso, sempre muito me surpreenderam e surpreendem as iniciativas e as proclamações dos que, sem dialogarem com ninguém e depois de levantarem a cartola, anunciam: por aqui é que é o caminho!
Por ex., creio ser de um simplismo atroz pretender-se resolver o problema da floresta e dos fogos através da sua redução ao binómio “prevenção vs fogos”. Mesmo quando se pretende dizer que, para que os fogos sejam contidos, há que olhar em primeiro lugar para a prevenção, fica-me a questão: mas, então, o cuidar da floresta tem que ser programado como uma questão, apenas, subordinada à existência, ou não existência de fogos? Não deveríamos, antes, olhar para floresta como um bem, que vale por si? Os fogos seriam, apenas, uma consequência do modo como dela tratamos.
Lidar com sistemas complexos como o é a floresta, maximizando a eficiência dos recursos e a eficácia dos objetivos, exige muita dedicação, muito rigor, grande persistência e uma perspetiva de longo prazo, mas cujos objetivos é hoje que têm que começar a ser construídos, sem desfalecimentos e por todos os que interagem com a floresta.
Esta iniciativa das Jornadas foi concebida de modo a poder reunir e colocar em diálogo alguns dos melhores especialistas portugueses na área da floresta e dos incêndios, com múltiplos agentes locais que, de modo muito diverso, intervêm no cultivo da floresta e no combate ao flagelo dos incêndios. Terminadas as Jornadas, julgo que por todos é reconhecido que as Jornadas alcançaram, plenamente, os objetivos que se propunham atingir. No entanto, também ficou claro que, apesar dos dois dias de reflexão e de discussão havidos, há ainda muito a fazer. O tema está longe de estar esgotado e muito trabalho adicional deve ser desenvolvido.
Se assim for, teremos começado, já hoje, a construir o amanhã. Mas não tenhamos ilusões, os resultados que estamos obrigados a obter no curto prazo, nunca sendo completamente definitivos, terão que ser parte fundamental do definitivo que, pouco a pouco, teremos que ir fazendo.