
A FREITA ALIOU-SE AO FUTURO
Escrito por António Teixeira CoelhoA FREITA ALIOU-SE AO FUTURO
A Freita é, para muitos de nós, um mundo de recordações que emergem sorrateiras quando calcorreamos os seus recantos. Lá pela última década do século passado, confiei aos leitores da DEFESA DE AROUCA, num texto que aqui retomo, emoções e lucubrações que brotavam espontâneas perante um quadro magnífico de rara beleza.
“Há no ribeiro de Gestosinho um parque de lazer enquadrado pelas margens da corrente que ali se precipita, em desnível acentuado, por entre arvoredo antigo e lameiros de erva verde. As inclemências do tempo, a inadequação dos materiais utilizados, a falta de manutenção e, porventura, instintos vandálicos de alguém têm-se encarregado de ir desmantelando bancos e mesas ali instalados para fruição do local, nos patamares que modelam a vertente íngreme. Naquela paisagem graciosa destacam-se os vultos de uma carreira de antigos moinhos de água. Ali se mantêm teimosamente, amuados e cismáticos, cogitando sobre o porquê do abandono a que se vêem votados. E não lhes escasseiam razões para tão evidente crise existencial. Não é verdade que foi graças a eles que bocas de gerações sucessivas saciaram a sua fome de pão? Não é verdade que guardam no seu bojo mecanismos que testemunham o saber de séculos? Não andássemos todos tão distraídos com tantas coisas, importantes apenas por momentos, e saberíamos prestar atenção a este património tão eloquente; os moinhos seriam testemunho, recordação e lugar de aprendizagem para todos e, porventura, de meditação, já que convidam a uma peregrinação interior pela alma colectiva.
Movem estes moinhos águas que, desde as vertentes do monte Serlei, se juntam em corrente caudalosa no Inverno, e mais sóbria no Verão, indo engrossar o Teixeira, no centro de Manhouce. Pelo caminho, estas águas movem moinhos. Digo que movem e não que moveram, porque alguns deles resistem e prestam ainda os seus serviços. Dizem até os seus utentes que a qualidade destes serviços é ímpar, causando inveja à concorrência, à sofisticada concorrência, vaidosa no seu esqueleto metálico movido a electricidade, acomodada num dos cantos dos pisos térreos das casas dos lavradores.
Os moinhos de água são testemunhas de um passado em que foram vedetas. Podemos encontrá-los ainda em pleno planalto da Freita, nos rebordos do Caima, ainda mal acabado de nascer, da junção das águas que lhe dão o ser, junto de Albergaria da Serra. Mas também ali quem os vê? Quem lhes cura as feridas do tempo? Quem se deixa encantar pela melopeia característica do trabalhar da mó acariciada e abastecida pela trepidante e avara tremonha?
Os moinhos de água já não são as vedetas da paisagem no planalto da Freita. Vai-se esgotando a sua função na economia do quotidiano das gentes da serra. Como lembra o Poeta “todo o mundo é composto de mudança”. No planalto da Freita, agora, as vedetas são outras. Virou-se uma página no livro da vida.
Quem vai à Freita ou até quem a olha de longe fica de nariz no ar especado a contemplar o horizonte ou de olhos fixos nos estranhos artefactos ali plantados pela mão do homem, lançando para as alturas as silhuetas dos seus corpos hirtos e elegantes encimados por cabeças rectangulares a que se prendem enormes pás helicoidais que, movidas pelo vento, acionam turbinas geradoras de electricidade. São os moinhos eólicos que na sua imponência, ali, aproveitam a força do vento, dando contributo precioso para o progresso do país e para a qualidade de vida de todos nós.
A Freita aliou-se ao futuro
Conheci-o durante cerca de 25 anos. Convivemos, sobretudo, nos fins-de-semana. Mantivemos longas, infindáveis, conversas sobre as questões do nosso tempo. A sua sede de informação era notória. Tinha convicções e mantinha-as, enriquecendo-as e robustecendo-as, no diálogo.
Acompanhava a evolução dos tempos com um misto de interesse e de preocupação.
Era o senhor Pedro da Venda, um vizinho em Gestoso, Manhouce.
É minha intenção que a colaboração que mantenho neste blogue reflita o resultado de ir circulando por textos literários ou outros que de alguma maneira se relacionem com temas tratados na nossa actividade ou me pareçam relevantes e enquadrados nos objectivos do Circulo.
Hoje, um texto de António Alçada Baptista sobre o fogo e a serra que, apesar dos seus quarenta e um anos, continua actual quer no que revela sobre incapacidade de encontrar soluções para o problema e de as por em prática, quer nas consequências que a devastação provocada pelo fogo tem na vida das pessoas.
A última Conferência de Arouca pretendeu debater o tema “As Religiões: a Guerra e a Paz”. Para conduzir a reflexão convidou Frei Bento Domingues e o jornalista António Marujo. Na sequência da última conferência permito-me juntar algumas achegas que me parecem pertinentes.
Demissões: reforço ou destruição do Estado?
Escrito por Manuel Brandão Alves
Na sequência dos incêndios de Pedrógão e dos assaltos aos paióis de Tancos, tem-se refletido menos sobre o que fazer para que estas tragédias não continuem a repetir-se no futuro e, nomeadamente por parte dos políticos de quem se exige a maior ponderação, mais da necessidade de se apurarem os responsáveis e daí retirar as respetivas consequências, isto é a sua demissão. Na maioria das vezes estes personagens dão a entender que já conhecem e que toda a gente conhece quem são os responsáveis. Logo, não é preciso fazer mais nada que não seja exigir a sua demissão.
Os órgãos de informação trouxeram até nós – alguns numa chocante orgia mediática - os trágicos acontecimentos dos últimos dias que, para além de uma comoção mal contida e um sentimento de profunda solidariedade, calaram de um modo especial nos arouquenses. Terão até provocado a “rebobinagem do filme” de acontecimentos, uns recentes, outros nem tanto.
Os ventos cruzados em Pedrógão, mas também, ali e acolá
Escrito por Manuel Brandão AlvesTodos os ventos cruzados provocam inação e estupefação. Uns são voluntários, outros involuntários. Pode demorar-se mais ou menos tempo a reagir a eles e às suas consequências; a rapidez da reação depende da previsibilidade que o fenómeno possuir e da capacidade de que se dispõe para, quando acontecem, lhe fazer face.
Proponho uma reflexão que tenho, naturalmente, como útil e oportuna, sobre o exercício do poder tal como o entendemos / tal como o testemunhamos.
Qualquer organização como um todo ou funciona como tal, como um todo, ou, a breve trecho, entrará em colapso e acabará em coma.
O meu contributo para o Blog ‘Circulando’ vai ser fiel à sua designação. ‘Circulando’ por Portugal e pelo mundo, falarei um pouco de viagens e cultura, mas falarei também de temas atuais da política internacional. Os desafios à União Europeia e que nos são tão próximos, as grandes potências no sistema internacional e o desenho de uma nova ordem (ou desordem) internacional, o papel das organizações internacionais e os conflitos violentos, entre outras reflexões. Circulando por este nosso mundo, espero partilhar experiências e análises e contribuir para que possamos pensar um mundo melhor.
Jornadas Floresta e Incêndios: a problemática
Escrito por Manuel Brandão AlvesAs 1.as Jornadas da Floresta foram uma iniciativa do Círculo Cultura e Democracia e da Câmara Municipal de Arouca. Refletir sobre a Floresta e os Incêndios, embora nem sempre se tinha disso a consciência mais apurada, é contribuir para o fortalecimento da nossa cultura e da nossa democracia; são um seu sustentáculo e parte integradora. De fato, se não formos capazes de cuidar do nosso ambiente, da nossa paisagem, da nossa floresta, do nosso modo de vida, há cimento de cultura e de democracia que pouco a pouco se vai esboroando. É como cuidar da nossa casa. Quando aí abrandamos as nossas exigências a própria casa, pouco a pouco, vai-se degradando. Todos ficaremos a perder, no presente e no futuro.
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Decorreram nos passados dias 24 e 25 de Março as Jornadas da Floresta. Foram momentos de grande actividade e participação interessada que compreenderam as intervenções não só de agentes locais que deram testemunho da sua experiência, mas também de especialistas de relevo nacional que fizeram um diagnóstico claro e completo dos problemas da floresta em Portugal.
E uma vez que todos desejamos uma natureza harmoniosa e feliz e que isso depende também do nosso empenhamento pedimos ajuda aos poetas. Vejamos o que eles nos dizem.
Quão ansiosos temos andado pelos serões que antanho ocupavam os nossos tempos de ócio e que com prazer despertavam o espírito e a curiosidade! Pois temo-los de volta. Desta vez não foi à lareira, mas no simpático espaço do restaurante-bar “Assembleia”, com o envolvimento de um número muito elevado de animados participantes.